segunda-feira, julho 07, 2008
Guardador de margens
Enquanto a cidade inteira vai digerindo o seu jantar
E todas as ruas e praças se lavam com essência de luar
Enquanto as estátuas famosas bebem brandies e aveledas
E as tílias se entreolham meigamente nas alamedas
Vou guardando as margens
Velando os lírios do jardim
Enquanto a meia-noite encerra mais uma sessão
E o senso-comum ressona tranquilo e pesado no colchão
Enquanto a cidade inteira lava os dentes e faz toilete
E os taxistas recolhem as sombras que restam da noite
Vou guardando as margens
Velando os lírios do jardim
Enquanto a luz do promontório ensina a costa ao barqueiro
E arde o rum forte no zimbório e traz lucidez ao faroleiro
Vou pondo malha sobre malha com o labor dum tapeceiro
Palavra, acorde, som, a talha e a devoção dum mestre-oleiro
Vou guardando as margens
Velando os lírios do jardim
Enquanto a cidade inteira vai feliz na sua faina
E o Sol boceja na ladeira ao som do martelo e da plaina
Saúdo a bruma e o orvalho e a luz do dia madrugado
Guardo as cartas no baralho meu sono é enfim chegado
Vou guardando as margens
Velando os lírios do jardim
Carlos Tê / Rui Veloso
Imagem retirada da net
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário