terça-feira, setembro 22, 2009

Pobres, mas tão felizes...

No final do estudo Necessidades em Portugal - Tradição e tendências emergentes, os investigadores viram-se perante um país socialmente muito frágil, pouco capaz de se mobilizar individual e socialmente. Mas, apesar disso, com altos níveis de satisfação e felicidade.

Teresa Costa Pinto, socióloga do Centro de Estudos Territoriais, do ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa), diz que a investigação trouxe novidades: "Algumas dimensões da privação alargam-se a outros grupos que não estariam nos 20 por cento de pobres".

Cerca de um terço da população vive "um contexto de precariedade" e está preocupado "com a sua sobrevivência", indicam os resultados. A impossibilidade de pagar uma semana de férias fora, manter a casa aquecida (32,6 por cento não o conseguem) ou não usufruir da baixa médica total por razões económicas, ultrapassam em muito os 20 por cento de pobres.

O índice resultante do inquérito diz que 35 por cento dos portugueses têm uma privação alta ou média. Mais de metade (57 por cento) tem um orçamento familiar abaixo dos 900 euros.

Os mais jovens começam a enfrentar situações de vulnerabilidade; e as qualificações superiores também já não garantem emprego seguro.

Estas condições deficientes ou más coincidem com o nível de satisfação com a vida: em Portugal, ele é dos mais baixos, comparado com outros países da União Europeia. Mas o grau de satisfação (6,6 numa escala de 1 a 10) está claramente acima do ponto médio da escala, tal como o da felicidade (que chega aos 7,3 em 10).

São os mais novos e os mais qualificados que reagem de outra maneira. "Já incorporaram a ideia de que a formação é para toda a vida", diz Teresa Costa Pinto. O que pode indiciar que por aqui se pode quebrar o círculo vicioso da falta de qualificação, emprego mal remunerado, situação de maior vulnerabilidade social, pobreza.

Somos uma sociedade pouco motivada para mudanças pessoais e colectivas, factor aduzido pelos elevados níveis de desconfiança em relação aos outros e às instituições governamentais, nomeadamente, que merecem pouca ou nenhuma confiança em 70 por cento dos casos. "As sociedades com baixo grau de confiança nos outros são as que se desmembram mais depressa", observa Isabel Guerra, também coordenadora científica do estudo.

Em síntese, os investigadores destacam dois tipos de necessidades:

As que se relacionam com o funcionamento do mercado de trabalho e das políticas sociais; e as que traduzem a incapacidade de criar o sentimento de "pertença a uma comunidade de cidadãos colectivamente responsáveis".
Uma sociedade que precisa de reforçar "as dimensões mais racionais, colectivas e organizacionais" que configuram as sociedades ocidentais modernas. "É praticamente inexistente o potencial para mudar", observa Isabel Guerra.


In "Público"


Porquê?
Remanescências da ditadura, ou estrondosa incompetência da democracia?

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