segunda-feira, julho 06, 2009
Que há-de ser de nós?
Já viajámos de ilhas em ilhas
já mordemos fruta ao relento
repartindo esperanças e mágoas
por tudo o que é vento
Já ansiámos corpos ausentes
como um rio anseia pela foz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós?
Que há-de ser do mais longo beijo
que nos fez trocar de morada
dissipar-se-á como tudo em nada?
Que há de ser só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós
Já avivámos brasas molhadas
no caudal da lágrima vã
e flutuando a lua nos trouxe
à luz da manhã
Reencontrámos lágrima e riso
démos tempo ao tempo veloz
já fizemos tanto e tão pouco
que há de ser de nós?
Que há-de ser da mais longa carta
que se abriu peito alvoraçado
devolver-se-á: endereço errado?
Já enchemos praças e ruas
já invocámos dias mais justos
e as estátuas foram de carne
e de vidro os bustos
Já cantámos tantos presságios
pondo o fogo e a chuva na voz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós?
Que há-de ser da longa batalha
que nos fez partir à aventura
que será que foi
quanto é quanto dura
Que há-de ser só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós
Sérgio Godinho
Foto retirada da net
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