terça-feira, novembro 13, 2007

O(s) Namoro(s)

Namoro (Sérgio Godinho - 1976)

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita disse ela tinha
um sorriso luminoso tão triste e gaiato
como o Sol de Novembro brincando de artistas
nas acácias floridas, na fímbria do mar

Sua pele macia era sumauma
sua pele macia cheirando a rosas
seus seios laranja, laranja do Loje
eu mandei-lhe essa carta e ela disse que não

Mandei-lhe um cartão que o amigo Maninho tipografou
por ti sofre o meu coração
num canto sim noutro canto não
e ela o canto do não dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do sete
pedindo e rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Sta. Efigénia
me desse a ventura do seu namoro... e ela disse que não

Mandei à Vó Xica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço bem forte e seguro
e dele nascesse um amor como o meu... e o feitiço falhou

Andei barbado, sujo e descalço
como um monangamba procuraram por mim
não viu ai não viu o Benjamim
e perdido me deram no morro da Samba

Para me distrair levaram-me ao baile
do Sr. Januário, mas ela lá estava
num canto a rir, contando o meu caso
às moças mais lindas do bairro operário

Tocaram uma rumba e dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu
e a malta gritou: "Aí Benjamim"

Olhei-a nos olhos, sorriu para mim
pedi-lhe um beijo, la la la la la
e ela disse que sim
e ela disse que sim



Namoro II (Trovante - 1986)

Ai se eu disser que as tremuras
Me dão nas pernas e as loucuras
Fazem esquecer-me dos prantos
Pensar em juras

Ai se eu disser que foi feitiço
Que fez na saia dar ventania
Mostrar-me coisas tão belas
Ter fantasia
E sonhar com aquele encontro
Sonhar que não diz que não

Tem um jeito de senhora
E um olhar desmascarado
De céu negro ou céu estrelado, ou Sol
Daquele que a gente sabe.
O seu balanço gingado
Tem os mistérios do mar
E a certeza do caminho certo
que tem a estrela polar.

Não sei se faça convite
E se quebre a tradição
Ou se lhe mande uma carta
Como ouvi numa canção
Só sei que o calor aperta
E ainda não estamos no verão.

Quanto mais o tempo passa
Mais me afasto da razão
E ela insiste no passeio à tarde
Em tom de provocação
Até que num dia feriado
P'ra curtir a solidão
Fui consumir as tristezas
P'ró baile do Sr. João

Não sei se foi por magia
Ou seria maldição
Dei por mim rodopiando
Bem no meio do salão
Acabei no tal convite
Em jeito de confissão
E a resposta foi tão doce
Que a beijei com emoção
Só que a malta não gritou
Como ouvi numa canção




Foto retirada da net

2 comentários:

Anónimo disse...

Existe sempre muito para se falar dos namoros, há sempre qualquer coisa que fica por se dizer.

Anónimo disse...

Já mandei esta carta. Já disse que não. Espero. Espero tantas vezes. Digo que não e depois digo que sim. É a insustentável leveza do meu ser. É este fado. Sou eu.