Esta é a fábula de um alto executivo de um grande banco. Stressado com a enorme carga de trabalho, entrou em colapso nervoso e foi ao médico. Relatou ao psiquiatra o seu caso. O médico, experiente, logo diagnosticou ansiedade, tensão e insegurança. Disse ao paciente:
- O Sr. precisa afastar-se duas semanas da sua actividade profissional. É conveniente que vá para o interior, isole-se do dia-a-dia e procure algumas actividades que o relaxem. Então o nosso executivo procurou seguir as orientações do médico. Munido de vários livros, CD's e portátil, mas sem o telemóvel, partiu para a quinta de um amigo. Passados os dois primeiros dias, o nosso executivo já havia lido dois livros e ouvido quase todos os CD's. Continuava inquieto. Pensou então que alguma actividade física seria um bom antídoto para a ansiedade que ainda o dominava. Chamou o caseiro da quinta e pediu para fazer algo. O caseiro ficou pensativo e viu um monte de esterco que havia acabado de chegar. Disse ao nosso executivo:
- O Sr. pode ir espalhando aquele esterco em toda aquela área que será preparada para o cultivo. Pensou consigo: "Ele deverá gastar uma semana com essa tarefa". Puro engano. No dia seguinte o nosso executivo já tinha distribuído o esterco por toda a área. Pediu logo uma nova tarefa. O caseiro então disse-lhe:
- Estamos a iniciar a colheita de laranjas. O Sr. vá ao laranjal, leve três cestos e distribua as laranjas por tamanho: pequenas, médias e grandes. No fim daquele primeiro dia o nosso executivo não voltou. Preocupado, o caseiro dirigiu-se ao laranjal. A cena que viu foi a seguinte: Estava o nosso executivo com uma laranja na mão, os cestos totalmente vazios, falando consigo mesmo:
- Esta é grande. Não, é média. Ou será pequena? - Esta é pequena. Não, é grande. Ou será média? - Esta é média. Não, é pequena. Ou será grande?
Moral da história? Espalhar merda é fácil. Difícil é tomar decisões.
Sós, irremediavelmente sós, como um astro perdido que arrefece. Todos passam por nós e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam. Todos se desconhecem. Os astros nada explicam: Arrefecem
Nesta envolvente solidão compacta, quer se grite ou não se grite, nenhum dar-se de outro se refracta, nenhum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento sou eu só, e mais ninguém. Quem sofre o meu sofrimento sou eu só, e mais ninguém. Quem estremece este meu estremecimento sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os lábios, dão-se os braços dão-se os olhos, dão-se os dedos, bocetas de mil segredos dão-se em pasmados compassos; dão-se as noites, e dão-se os dias, dão-se aflitivas esmolas, abrem-se e dão-se as corolas breves das carnes macias; dão-se os nervos, dá-se a vida, dá-se o sangue gota a gota, como uma braçada rota dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto que no silêncio concreto, este oferecer-se de dentro num esgotamento completo, este ser-se sem disfarce, virgem de mal e de bem, este dar-se, este entregar-se, descobrir-se, e desflorar-se, é nosso de mais ninguém.
António Gedeão, in Teatro do Mundo, 1958 Foto retirada da net
Já não sou quem era Meus sonhos não são iguais Já não sou quem era A hora é sincera E eu sinto que me estou a agitar
Já não fico à espera Já não fico à espera mais Já não fico à espera De ver acender Essa luz que me quer ofuscar
Já vejo com os meus olhos Já vejo sem me deslumbrar Já vejo as limitações Já vejo com os meus olhos Já vejo sem enganar Perdi as ilusões Conheço as limitações
A minha forma humana está adormecida. Repousa nos doces lagos da inconsciência. Vagueio pela noite, com o ânimo de um condenado que caminha para a execução. O céu apresenta-se negro, cor com a qual não simpatizo. Recorda-me momentos que prefiro esquecer, dá-me calafrios. O manto de estrelas, admito, é uma bela visão, mas perturbadora por causa da cor de fundo. Porque é que não se pode colocar um fundo azul escuro? Ninguém me sabe responder... Cruzo-me com anjos, demónios, santos, pecadores, inocentes, estafermos, aldrabões. Estou cansado. A eternidade é cansativa. A luz da noite fere-me os olhos. Quero fechá-los, quero dormir, descansar. Quero um pouco de paz... Só não sei como começar.
Por razões que não vêm ao caso, as últimas semanas, difíceis para mim, têm-me obrigado a pensar no passado e no presente e a esquecer o futuro. Sobretudo o passado: tornei a encontrar o cheiro e o eco dos hospitais, essa atmosfera de feltro branco, onde as enfermeiras deslizam como cisnes, que nos tempos de interno me exaltava, o silêncio de borracha, brilhos metálicos, pessoas que falam baixinho como nas igrejas, a solidadriedade na tristeza das salas de espera, corredores intermináveis, o ritual de solenidade apavorante a que assisto com um sorriso trémulo a servir de bengala, uma coragem postiça a mal esconder o medo. Sobretudo no passado porque o futuro se estreita, e digo sobretudo o passado visto que o presente se tornou passado também, recordações que julgava perdidas e regressam sem que se dê por isso, os domingos de feira em Nelas, os gritos dos leitões (lembro-me tanto dos gritos dos leitões agora)
um anel com o emblema do Benfica que aos cinco anos eu achava lindo e os meus pais horrível, que aos cinquenta anos continuo a achar lindo apesar de achar horrível também, e julgo ser altura de começar a usá-lo uma vez que não me sobra assim tanto tempo para grandes prazeres. Quero o anel com o emblema do Benfica, quero minha avó viva, quero a casa da Beira, tudo aquilo que deixei fugir e me faz falta, quero a Gija a coçar-me as costas antes de me deitar, quero o pinhal do Zé Rebelo, quero jogar pingue-pongue com o meu irmão João, quero ler Júlio Verne, quero ir à Feira Popular andar no carrocel do oito, quero ver o Costa Pereira defender um penalti do Didi, quero trouxas de ovos, quero pastéis de bacalhau com arroz de tomate, quero ir para a biblioteca do liceu excitar-me às escondidas com a «Ruiva» de Fialho de Almeida, quero tornar a apaixonar-me pela mulher do faraó nos «Dez Mandamentos» que vi aos doze anos e a quem fui intransigentemente fiel um verão inteiro, quero a minha mãe, quero o meu irmão Pedro pequeno, quero ir comprar papel de trinta e cinco linhas à mercearia para escrever versos contadas pelos dedos, quero voltar a jogar hóquei em patins, quero ser o mais alto da turma, quero abafar berlindes olho de boi, olho de vaca, contramundo e papa
quero o Frias a contar filmes na escola do senhor André, a falar do Rapaz, da Rapariga e do Amigo do Rapaz, filmes que nunca vi a não ser atrvés das descrições do Frias (Manuel Maria Camarate Frias o que é feito de ti?) e as descrições do Frias eram muito melhores do que os filmes, o Frias imitava a música de fundo, o barulho dos cavalos, os tiros, a pancadaria no «saloon», imitava de tal forma que a gente era com se estivesse a ver, o Frias, o Norberto Noroeste Cavaleiro, o homem que achou que eu lhe estava a mexer no automóvel e se desfez num berro
- Trata-me por senhor doutor meu camelo
a primeira vez que uma pessoa crescida me chamou nomes e eu com vontade de responder que o meu também era doutor, que ao entrar no balneário do Futebol Benfica para me equipar o Ferro-o-Bico explicou aos outros
- o pai do ruço é doutor
e houve à minha roda uma nudez respeitosa, o pai do ruço é doutor, quero voltar a apanhar um táxi à porta de casa e o chofer perguntar:
- É aqui que mora um rapaz que joga hóquei chamado João?
e quero tornar a espantar-me por ele tratar assim o pai do ruço, quero partir um braço e ter gesso no braço ou, melhor ainda, uma perna para andar de canadianas e assombrar as meninas da minha idade, um miúdo de canadianas achava eu, acho eu não hà rapariga que não deseje namorar com ele e além disso os carros param para a gente atravessar a rua,
quero que o meu avô me desenhe um cavalo, eu monte no cavalo e me vá embora daqui, quero dar pulos na cama, quero comer percebes, quero fumar às escondidas, quero ler o «Mundo de Aventuras», quero ser Cisco Kid e Mozart ao mesmo tempo, quero gelados do Santini, quero uma lanterna de pilhas no Natal, quero guarda-chuvas de chocolate, quero que a minha tia Gogó me dê de almoçar
- Abre a boca Toino
quero um pratinho de tremoços, quero ser Sandokan Soberano da Malásia, quero usar calças compridas, quero descer dos eléctricos em andamento, quero ser revisor da Carris, quero tocar todas as cornetas de plástico do mundo, quero uma caixa de sapatos cheia de bichos de seda, quero o boneco da bola, quero que não haja hospitais, quero que não haja doentes, quero que não haja operações, quero ter tempo para ganhar coragem e dizer aos meus pais que gosto muito deles (não sei se consigo) dizer aos meus pais que gosto muito deles antes que anoiteça senhores, antes que anoiteça para sempre.
António Lobo Antunes Crónica de 15 de Dezembro de 1996, in Crónicas do Público
No português, como em muitas outras línguas, a palavra Páscoa tem origem na palavra hebraica Pessach.
Para os cristãos a Páscoa representa a data da Ressurreição de Cristo e que é uma continuação da homenagem em memória à saída dos judeus do Egipto. Assim, o dia da Páscoa é o primeiro domingo depois da Lua Cheia que ocorre no dia ou depois de 21 Março. Entretanto, a data da Lua Cheia não é a real, mas ocorre após ou no equinócio da primavera boreal, adoptado como sendo 21 de Março (Concílio de Nicéia 325 d.C.).
A Quarta-feira de Cinzas ocorre 46 dias antes da Páscoa e portanto a Terça-feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa. Esse é o período da Quaresma, que começa na Quarta-feira de cinzas.
O Domingo de Páscoa é a ressurreição, simbolizada pelo ovo, significando o nascimento – a nova vida.
A tradição de oferecer ovos vem da China. Há vários séculos, os orientais preocupavam-se em embrulhar os ovos naturais com cascas de cebola e cozinhavam-nos com beterraba. Ao retirá-los do fogo, ficavam com desenhos mosqueados na casca. Os ovos eram dados de presente na Festa da Primavera.
O costume chegou ao Egipto. Assim como os chineses, os egípcios distribuíam os ovos no início da nova estação.
Depois da morte de Jesus Cristo, os cristãos consagraram esse hábito como lembrança da ressurreição e no século XVIII a Igreja adoptou-o oficialmente, como símbolo da Páscoa. Desde então, trocam-se os ovos enfeitados no domingo após a Semana Santa.
Não é partida de 1 de Abril. Este blog vai mesmo ficar quieto. Não por muito tempo, mas ao fim de 497 posts, impõem-se uma reflexão. Até aqui, este espaço vem seguindo uma linha de rumo quase exclusiva. Não é negativo, mas é cansativo. Sendo este um espaço pessoal, isso acaba por condicionar todo um pensamento que não se confina, nem se reduz a temas padrão. Mudar é preciso. O blog segue dentro de alguns dias.