segunda-feira, novembro 29, 2010

O Inferno Português

Com a crise, as medidas de austeridade e a discussão de Orçamentos de Estado na ordem do dia, há quem diga que a vida se vai tornar num inferno. Pelo andar da carruagem, até é capaz de ser uma melhoria. Afinal de contas, estamos a falar de Portugal, onde nada parece ser levado a sério. Se calhar é do clima, mas o certo é que as coisas se vão desenrascando e daí não se passa.

À semelhança dos Infernos das anedotas que envolvem personagens de várias nacionalidades, o Inferno Português seria, pelo menos em papel, algo terrível, como nunca antes visto em lado algum mas, na prática, acaba por ser bastante confortável. É uma tradição de muitos séculos, que remonta, pelo menos, ao reinado de D. Dinis, quando a Ordem do Templo foi extinta, mas acabou por só mudar de nome.

Voltemos ao hipotético Inferno Português, também conhecido como o mais Infernal Inferno do Mundo e Arredores – IIMA, para abreviar. Para assegurar uma verdadeira infernalidade deste novo inferno, seguramente se nomearia uma comissão ou duas para redigir um caderno de encargos digno de Mefistófeles, muito provavelmente escrito com o sangue de dúzia e meia de virgens – contratadas por concurso público internacional, seguindo directivas comunitárias. As sucessivas revisões do caderno de encargos estipulariam torturas cada vez mais elaboradas, como nunca antes vistas ou até mesmo sonhadas no mundo civilizado. Fariam parte dos cartazes de apresentação as mais quentes labaredas dos infernos, os diabos com os cornos mais afiados, as chicotadas aplicadas com mais vigor, os torcionários mais sádicos e, acima de tudo, a incomparável qualidade dos acabamentos das suites privadas dos quadros dirigentes do Inferno, com janelas panorâmicas para as piscinas de lava e piri-piri.

A concurso público iriam os projectos das empresas de construção civil e consultoria dirigidas por antigos ministros, e seria seleccionado o mais caro ou o que garantisse mais hipóteses de integração na vice-presidência do conselho de administração da empresa de grande parte dos elementos do júri.

O Inferno, propriamente dito, seria construído pelo Estado, a expensas da Fazenda Pública e, assim que terminado, estabelecer-se-ia uma parceria público-privada para a sua gestão, em que o Estado arcasse com as despesas, atribuísse uma indemnização compensatória pela exploração do espaço e a empresa privada ficasse com os lucros, como vem sendo costume nestes casos.

O Diabo, essa figura central do Inferno, seria, também ele, um antigo ministro, actualmente auferindo uma principesca reforma de um banco estatal que acumularia com um chorudo vencimento e carro com motorista. Seria auxiliado na sua desagradável tarefa de torturar as almas por um verdadeiro cortejo de diabretes sorridentes, todos eles ligados às máquinas partidárias.

Até aqui, este Inferno promete ser o melhor do mundo, ou o pior, dependendo do ponto de vista, mas é preciso não esquecer que se trata de um Inferno Português. Com o Estado falido, não haverá verba para pagar o aquecimento das piscinas de lava e não será, seguramente, a gestão privada a adiantar dinheiro do seu bolso. Aliás, caso não sejam pagas as indemnizações compensatórias pela prestação de serviço público infernal, os chicotes e a roda nem sequer sairão dos armários.

Finalmente, o Diabo, que goza de isenção de horário, aproveita as despesas de representação ilimitadas e muda-se para o Paraíso enquanto metade dos diabretes aparece pela manhã, assina o livro de ponto e só volta no dia seguinte. A metade restante mete baixa invocando motivos psiquiátricos, por não se sentirem bem com o pranto dos condenados ou desgostarem da ementa da cantina.

Aos condenados resta apenas chicotearem-se uns aos outros, porque alguém tem de fazer o trabalho.



Texto retirado daqui:
http://afonsoloureiro.net/blog/

sexta-feira, novembro 26, 2010

Quer emprego?

Era uma vez um empresário que conhecia alguns membros do governo, entre eles um determinado ministro.

Este empresário, querendo encontrar uma ocupação para o seu filho adolescente, durante as férias escolares, contactou o seu amigo ministro:

- Gostava que me ajudasses a encontrar qualquer coisa para o meu filho. Para o ocupar durante as férias.

- E o que é que ele sabe fazer?

- Ele terminou agora o 10º ano. Não sabe fazer nada.

- Olha, há um cargo de assessor do sub-secretário de estado. São cerca de 3000 euros.

- Não, isso é muito! Há alguma coisa menos bem paga?

- Sim, claro! Também preciso de um sub-assessor do assessor do sub-secretário. Já só são 2500 euros.

- Olha lá, então e não arranjas nada aí por volta dos 800 euros?

- Isso também há, só que o teu filho tinha de ser licenciado, fluente em 3 linguas, ter 10 anos de experiência, incluindo experiência em gestão de equipas e de projectos, implementação de sistemas integrados de ambiente, qualidade e segurança, CAP de formador e de técnico superior de HST....

quarta-feira, novembro 24, 2010

Desejo


O momento em que queres o teu homem.
E nesse momento, quereres que o teu homem, seja eu...



Toni
Foto retirada da net

segunda-feira, novembro 22, 2010

O tempo


O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que têm medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno.



William Shakespeare
Imagem retirada da net

sexta-feira, novembro 19, 2010


(...)
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência
E a única inocência é não pensar...



Alberto Caeiro in O Guardador de Rebanhos
Foto retirada da net

sexta-feira, novembro 12, 2010

Google dá prémios e aumenta salários de empregados

Escolhi este artigo da edição online da Exame Informática de 10-Novembro-2010.
A escolha teve, obviamente, a ver com os tempos que correm, com o permanente ruído sobre crise e recessão.
Podia já ter escolhido também o exemplo da Autoeuropa. Mas neste caso há outro motivo que me levou a trazer aqui este artigo: Uma das respostas.


O Artigo:

"Em tempo de crise, a Google vai contra a maré e premeia os seus empregados com aumentos nos salários e bónus avultados.

Segundo a Business Insider, a Google deu a todos os seus empregados mil dólares em bónus natalícios (cerca de 730 euros) e um aumento salarial de pelo menos 10%.

O aumento no salário terá efeito já no dia 1 de janeiro de 2011, e haverá ainda outros prémios para os empregados: os impostos sobre o bónus serão pagos pela Google e existem prémios de mérito baseados no desempenho de cada um.

A Google não comentou esta notícia, apesar de a Business Insider apresentar um suposto memorando interno onde são explicadas as regalias aos funcionários.

E a sua empresa? Valoriza os empregados segundo o mérito de cada um?"



A Resposta:

Re: Google dá prémios e aumenta salários de empreg

por: Utilizador anónimo
hoje às 9:59, 1 ponto

Na minha empresa, só há dinheiro para os Audi A6 e BMW 5 dos directores.

Para condições de trabalho que implicam directamente na produtividade e na qualidade do trabalho, não há. Estamos em crise.

Na minha empresa, só há prémios para directores e gestores. Mais ninguém contribui para os resultados.

Na minha empresa, quando se é muito bom o reconhecimento é zero. Quando se é muito mau, não acontece nada.

Na minha empresa, vale o que parece. Nunca o que é.

Na minha empresa, os critérios de atribuição do que quer que seja, baseiam-se na total ausência de critério.

Na minha empresa, ninguém conhece os parametros pelos quais foi avaliado, nem se foi avaliado.

Na minha empresa, uns fazem o que querem, outros fazem o que podem.




Link do artigo:
http://aeiou.exameinformatica.pt/google-da-premios-e-aumenta-salarios-de-empregados=f1007742

quarta-feira, novembro 10, 2010

What do you say?


Some men see things as they are and say, "Why?"
I dream of things that never were and say, "Why not?"


George Bernard Shaw
Foto retirada da net

segunda-feira, novembro 08, 2010

Retrato


Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
A minha face?



Cecília Meireles
Foto retirada da net