quinta-feira, outubro 15, 2009

Diálogos... (II)



O velho pousou o copo no tampo metálico da mesa.
Enquanto atava e desatava as suas recordações, contemplava placidamente as cores vivas do poente.
A mais recente das recordação, foi porém interrompida pela visão daquela bela mulher.

Focava agora toda a atenção, no cabelo cor de mel até ao meio das costas e no corpo esguio e esbelto que, graciosamente, se sentou a seu lado.
A sua pose irradiava serenidade, mas o olhar, dois sois negros sem brilho, era profundamente escuro e vazio.
Então compreendeu. Aquela mulher alta e bela, estava ali por sua causa.

- Porque te pareces tanto com ela? - perguntou.
- Para não te assustares.
- Queres falar-me...

O olhar negro, sem brilho e vazio, fixou-o. A perspicácia do velho desconcertou-a:

- Não costumo ter oportunidade... Acho que gostam de me manter ocupada.
- Vem comigo. Caminhemos...

A conversa decorreu serena, porém, cheia de curiosidades, como se dois amantes recentes tentassem descobrir o máximo do mundo do outro.
Então, após uma breve pausa, ela afirmou:

- Não foi culpa tua, o que aconteceu.
- Porque dizes isso?
- Porque é o que tu sentes. É da natureza humana...
- Há escolhas certas e há as erradas. E eu acabei com o que me era mais precioso. Disso, sou culpado.
- Um conjunto de circunstâncias que tu nunca podias dominar, assim o determinou. Na hora certa, eu só tinha de estar no lugar certo. E estava... Nunca me atraso.
- Nunca?
- Tudo gira em torno de um equílibrio. Se o perturbamos... Há consequências.
- Então não te atrases comigo.
- Certamente que não. Não abro excepções.

- Não?
- Nunca!
- E não te custa? Quer dizer, em algumas circunstâncias...
- Ás vezes é doloroso fazer o que tem de ser feito. E sim, foi difícil levá-la...
- Vou poder vê-la?
- Suponho que irás encontrá-la.

- Quando voltas... para mim?
- Brevemente...


Toni
Imagem retirada da net

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