segunda-feira, abril 27, 2009

As Palavras



São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



Eugénio de Andrade, in Coração do Dia, 1958
Foto retirada da net

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu recolho-as, assim, devagarinho, como quem colecciona conchas, dispensando tempo para as escutar uma a uma