terça-feira, agosto 22, 2006

História dos Sentimentos

Contam que uma vez, reuniram-se todos os sentimentos, qualidades e defeitos dos homens.

Quando o ABORRECIMENTO reclamava pela terceira vez, a LOUCURA propôs:
- Vamos brincar às escondidas?
A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE, sem se conter, perguntou:
- Escondidas? Como é?
- É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e conto até um milhão enquanto vocês se escondem. Quando eu terminar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu lugar para continuar o jogo.
O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA. A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou por convencer a DÚVIDA e até mesmo a APATIA, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos quiseram participar:
A VERDADE preferiu não se esconder. Afinal todos me encontram! - Pensou.
A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto e a COBARDIA preferiu não se arriscar.
- Um, dois, três, quatro... - Começou a contar a LOUCURA.
A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que como sempre caiu atrás da primeira pedra. A FÉ subiu ao céu e a INVEJA escondeu-se atrás da sombra do TRIUNFO, que com esforço tinha conseguido subir à árvore mais alta.
A GENEROSIDADE quase não conseguiu esconder-se, pois cada local que encontrava, parecia-lhe lindo para algum de seus amigos: Se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA. Se era a copa de árvore, perfeito para a TIMIDEZ. Se era o vôo de uma borboleta, melhor para a VOLÚPIA. Se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE. E assim, acabou a esconder-se num raio de sol. O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Fresco, cómodo, mas apenas para ele. A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris) e a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões. O ESQUECIMENTO, ninguém se lembra onde se escondeu. Quando a LOUCURA estava no 999.998, o AMOR ainda não se tinha escondido, até que encontrou uma rosa e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas pétalas.
- Um milhão! - terminou de contar a LOUCURA e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a PRESSA, pois caiu atrás da primeira pedra. Depois, ouviu-se a FÉ discutindo com DEUS. Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões. Num descuido, encontrou a INVEJA e claro, pode deduzir onde estava o TRIUNFO.
O EGOÍSMO, nem teve que procurá-lo. Ele saiu disparado do seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas. De tanto caminhar, sentiu sede e ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA. A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois encontrou-a sentada numa cerca sem decidir de que lado esconder-se.
E assim foi encontrando todos: O TALENTO entre a erva fresca, a ANGÚSTIA numa cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris e até o ESQUECIMENTO, que já se tinha esquecido que estava a brincar às escondidas.
Apenas o AMOR não aparecia em lado nenhum. A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, por baixo de cada rocha e em cima das montanhas. Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral. Pegou numa forquilha e começou a mover os ramos, quando ouviu um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos. A LOUCURA não sabia o que fazer para se desculpar. Chorou, rezou, implorou e até prometeu servir sempre de guia.
Desde então, em que pela primeira vez se brincou às escondidas que, o AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha.

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